São tempos de pena … tempos de dor … é impossível que, neste final de 2024, os nossos corações não estejam com Valência, e com as vítimas da DANA de 29 de outubro …
Durante e depois (mas não antes), ouvi
e li muitas opiniões … principalmente de quem não viveu este
efeito meteorológico e, logicamente, não sentiu na pele o drama …
o horror …
Hoje fala-se muito de DANA … DEPRESSÃO
ISOLADA EM NÍVEIS ALTOS … e fala-se como se fosse “coisa
nova” …
O nome será novo … mas será apenas uma forma
moderna de chamar a “GOTA FRIA” de toda a vida … ou … o que
em Portugal chamavam “TROVOADAS DE VERÃO” …
Entre os comentários mais ouvidos estão expressões como:
“--- Este
é um efeito das alterações climáticas … prova de como estamos a
destruir o planeta …”
Em alguns pontos têm razão …
noutros … nem tanto …
Comecemos por esclarecer alguns …
O ser humano não é responsável por aquilo a que
chamamos “ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS” …
Olhando para trás,
na história, sabemos que a TERRA sofreu, em termos de clima, muitas mudanças … de épocas
geladas a anos tórridos … em tempos em que, ainda, não existia
vida humana …
Então
… somos inocentes injustamente acusados ?!?
Não! De
inocentes não temos nada!
Somos culpados de, com a nossa forma
de vida inconsciente, acelerar desmesuradamente o processo que, em
vez de levar milhares de anos … passa a mudar em escassas centenas
…
Posso aceitar que tudo isto tenha algo a ver com estas últimas DANAs … mas que não se pense que é um fenómeno recente …
Deixo-vos
apenas alguns dados:
27 de dezembro de 1517 – gota fria em Valência … o rio Turia transbordou … destruíram-se pontes, moinhos e outras edificações … houve dezenas de mortos …
26 de janeiro de 1626 – Salamanca … o rio Tormes transbordou … morreram 142 pessoas …
10 de junho de 1796 – província de Burgos … uma trovoada devastou as colheitas de cereais … faltam-nos dados sobre o número de vítimas mortais …
Outubro de 1879 – a cheia de Santa Teresa … o rio Segura inundou zonas de Múrcia e Orihuela … mais de 4 metros de altura das águas … mais de mil mortos …
11 de setembro de 1879 – cheia de Almería … a força das águas destruiu ruas … edifícios … cidades como Adra, e aldeias como Gádor e Benehadux, sofreram inundações severas … mais de 100 mortos …
14 de outubro de 1957 – novamente Valência … o rio Turia transbordou … em menos de 24 horas a cidade ficou completamente alagada … em algumas zonas as águas subiram 5 metros … morreram, pelo menos, 81 pessoas … depois desenvolveu-se o Plano Sul, um projeto de engenharia civil que desviou o curso do rio Turia …
25 de setembro de 1962 – aconteceu a cheia de Vallés … choveram 200 litros por metro quadrado … houve cheias nos rios Llobregat e Besós … a água devastou os municípios de Rubí, Tarrasa, Sabadell, Sant Quirze, Cerdanyola del Vallés e Ripollet … 815 mortos …
– Outubro de 1965 – transbordou a barragem de Torrejón el Rubio, em Cáceres … 50 mortos …
19 de outubro de 1973 – caíram 600 litros por metro quadrado, nas províncias de Granada, Múrcia, Almería e Alicante … morreram mais de 150 pessoas, a maioria num mercado de Puerto Lumbreras, em Múrcia … mais de meia centena de desaparecidos … alguns jamais foram encontrados …
– outubro de 1982 – novamente Valência … chuvas intensas provocaram a rutura da barragem de Tous no rio Júcar … foram evacuadas cem mil pessoas … morreram 30 …
– Novembro de 1987 – ocorreu a cheia de La Safor … choveram 220 e 817 litros por metro quadrado, em Gandía e Oliva … só morreram 2 pessoas …
07 de agosto de 1996 – a tragédia do parque de campismo de Biescas … o torrente de Arás, no rio Gállego, arrasou o parque de campismo de Las Nieves … caíram 500 litros por metro quadrado em apenas 8 minutos … deixou 87 mortos e 200 feridos …
28 e 29 de setembro de 2012 – uma DANA cruzou as províncias de Múrcia, Andaluzia e Valência … em Gandía, um tornado derrubou uma nora-gigante … morreram 13 pessoas e 35 ficaram feridas …
09 de outubro de 2018 – 250 litros por metro quadrado caíram na comarca do Levante de Maiorca … 13 mortos …
Para que tenham uma ideia … neste último 29 de outubro caíram 445,4 litros de água por metro quadrado, em Valência … até ao momento … 224 mortos e quase duas dezenas de desaparecidos …
Está
claro que não estamos piores nem com casos singulares …
Mas
… talvez por isso, deveríamos ter infraestruturas preparadas para
enfrentar estas situações …
Claro que, ter fechado a UME
em Valência … não dar muito crédito às indicações e alertas
da AEMET … ou … dar prioridade a almoços, ainda que sejam de
trabalho, não ajuda na resolução de problemas deste tipo …
Ah!
E mais uma coisa … a nossa atuação não destrói o planeta … o
nosso planeta é indestrutível … deu provas de auto regeneração ao longo da sua
história … o que destruímos é a possibilidade de continuarmos a
habitá-lo …
Não quero terminar sem deixar um abraço, sentido, a todos os valencianos que, direta ou indiretamente, estão afetados …
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